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Herdeiros de Paulo Caruso não me reconhecem como sócio do “Bar Brasil” – por Alex Solnik

Quando, depois de sete anos de parceria, meu amigo Paulo Caruso decretou que a historinha “Bar Brasil” era só dele e não nossa, apesar de meu nome constar no título, ao lado do seu, percebi quanta falsidade pode haver por trás do sorriso de um cartunista que vivia do humor. Ainda não satisfeito, correu para registrar a obra só em seu nome, mas foi rechaçado pelo INPI – Instituto Nacional de Propriedade Industrial que argumentou o óbvio: se o “Bar Brasil” é assinado por duas pessoas, o dono não pode ser um só. Ainda não satisfeito de novo, Paulo Caruso criou a “Avenida Brasil”, um evidente subproduto do “Bar Brasil”, mas agora só com sua assinatura. E o Mino Carta aceitou publicar. No que foi cúmplice de um crime de lesa propriedade. Antes disso, o dono da editora, Domingo Alzugaray propôs que eu tocasse o “Bar Brasil” com outro desenhista, mas eu recusei. Daí em diante, o Paulo passou a esconder o “Bar Brasil”. Não só a obra, mas qualquer referência a ela. Nunca incluiu em exposições que fez. E não foram poucas. Nunca citou em entrevistas. Como se o “Bar Brasil” nunca tivesse existido. Escondeu, assim, um período fundamental da história do Brasil, da ditadura para a democracia. Apesar de tudo isso, eu nunca o processei nem rompi com ele. Ao contrário, sempre propus voltarmos a fazer de novo. Insisti nisso em 2018, com a ascensão de Bolsonaro. Como fui idiota! Eu ainda acreditava que seu ego fosse menor que o seu talento. Ele queria fazer tudo sozinho, desenho e texto, como seu irmão gêmeo. Não queria dividir. Paulo morreu em 2023. Desde então estou tentando resgatar o “Bar Brasil”, que continua escondido, agora dentro do inventário disputado por seus cinco herdeiros, com suas mais de 3000 obras. Entrei com um processo para reaver a metade dos 300 painéis do “Bar Brasil” que produzimos. O juíz perguntou aos herdeiros se eles me reconheciam como parceiro de Paulo Caruso. Dois deles me viram trabalhando com seu pai, quando eram pequenos e visitavam o estúdio com a mãe. Eles responderam que não. Não me reconheceram como parceiro. Por que iriam dividir comigo algo que seu pai não quis dividir? É mais cômodo continuar escondendo o “Bar Brasil” e faturar em cima do “Avenida Brasil”, do qual não tenho direitos.

É um absurdo não me reconhecer como sócio do “Bar Brasil”. Basta perguntar ao Mino Carta. Ou a qualquer cartunista. Ou ao Johnny Saad, que nos propôs um programa, não só ao Paulo, mas a nós dois, na Band. Basta perguntar aos diretores da Rádio Excelsior, que nos contrataram (a nós dois, não só ao Paulo) para um programa chamado “Bar Brasil”. Basta perguntar aos diretores da Editora Paz e Terra que publicaram nossos trabalhos e assinaram dois contratos, com ele e comigo. E pagaram direitos autorais aos dois. Basta perguntar aos diretores da Editora Três, que pagava aos dois. Se eu não era parceiro dele, por que o Domingo Alzugaray me pagava? Por causa dos meus olhos verdes?

Os herdeiros de Paulo Caruso não herdaram seu talento. Herdaram seu caráter.

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