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Bandidolatria e bandidocracia. Por José Crespo

Tradicionalmente, “bandidos” eram pessoas que tinham cometido crimes ou viviam à margem da Lei, como ladrões, assaltantes ou membros de organizações  criminosas. 

Mas a (triste) realidade que nos cerca, nos últimos tempos, está alterando  culturalmente esse conceito. 

Bandidos ainda cometem crimes, ou criam narrativas relativizando-os, mas não mais vivem à margem da lei. São aceitos pela sociedade, como vítimas a serem protegidas ou até fazendo parte do “stablishment” legal. 

Provavelmente isso aconteceu pelo questionamento e rejeição dos valores que  edificavam a civilização humana. 

Bandidos passaram a ser admirados como justiceiros ou até heróis, classificação que  inclui figuras como Robin Hood ou mais próximos, como Lampião, Zumbi e  Marighella. É o que caracteriza a “bandidolatria”, ou seja, a moderna prática de  idolatrar bandidos. 

Apenas um exemplo? Em junho passado, a ENFAM – Escola Nacional de Formação e  Aperfeiçoamento de Magistrados (sim, juízes togados) convidou e ouviu o bandido  condenado Gregório Antonio Fernandes em palestra sobre “proteção do vulnerável  e direito antidiscriminatório”, representando a Comissão de Direitos Humanos da…  OAB, quando fez ironias sobre o próprio Judiciário, atacou as Polícias, defendeu o  “abolicionismo penal” (!) e a legalização de todas as drogas. 

Liberado em audiência de custódia e respondendo em liberdade, com tempo até  para ministrar essas palestras, Gregório havia, pouco antes, estuprado e assassinado um menino de 5 anos, com inimagináveis requintes de monstruosidade, socando a  cabeça dele, introduzindo pedaço de madeira em seu ânus até causar hemorragia interna e fissurando com mordidas o pênis do menino. 

Embora monstruosos, literalmente satânicos, casos como esse estão se tornando  “aceitáveis” ou pelo menos impunes, e sua diversificação/multiplicação afetando  toda a estrutura social e política, principalmente no sentido da seara do supremo  poder, Brasília.

A bandidolatria (tolerância e admiração pelo crime) está descendo ao nível do  Pragmatismo, algo próximo da decantada “lei de Gerson”, onde todos os fins e  lascívias justificam os meios. 

Não há mais princípios (estoicismo, nem pensar) e muito menos regras ou valores  absolutos. Em palavras vulgares, em Brasília “quem pode mais, chora menos”. 

Chegamos ao estágio da Bandidocracia, nos três poderes mancomunados. 

E seguramente, dos três, o maior responsável é o poder original, onde tudo começa:  o Legislativo. 

Metade dos seus agentes, os mais talentosos para o crime e a dissimulação, agem e  mandam; a outra metade, por covardia ou “apenas” por ganância, se omite. Ou seja,  todos os seus 513 + 81 membros são os maiores culpados. 

Exemplo atualíssimo? Atitude do ministro Flávio Dino (que incontestavelmente uma  vestal, não é), bloqueando o pagamento dos 50 bilhões de reais em “emendas  parlamentares” escusas, que os “parlamentares” (que atualmente o fazem somente  nos bastidores da alcova) tentam receber sem dizer para quem e até para que… 

Insatisfeitos e irritados com o ministro, mas cautelosos em não extravasar as  verdades que permeiam, essa quadrilha ameaça transversalmente não aprovar o  orçamento perdulário, paralisar toda a Casa a até tirar da mofada gaveta os  justificados pedidos de “impeachment”. Mas tudo o que querem é negociar, mostrar seus dentes e rugir, jamais o saneamento do país. 

Mas não se deve generalizar; deve existir algum ser humano honesto em Brasília.  Todavia, somente Diógenes, o de Atenas, poderia encontrá-lo. 

Ou, se lá houvesse pelo menos 10 justos, Deus atenderia ao pedido de Ló (Genesis  18:23-32). 

Juízes singulares honestos e capazes ainda existem, mas recente levantamento  mostrou que a bandidocracia há muito se preveniu: o Brasil é o país, em todo o  planeta, com a maior quantidade de “autoridades” com fôro privilegiado: 58.660 (cinquenta e oito mil, seiscentos e sessenta pessoas), enquanto que em Portugal são  apenas 3, na Alemanha apenas 1 e nos Estados Unidos, nenhuma pessoa tem fôro  privilegiado. 

Somos 212 milhões de otários. 

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